20.11.07





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Projetos

Projetos de Teatro e Educação

O Teatro de Animação na Formação do Indivíduo

Sinopse: O objetivo deste projeto é proporcionar a interação de um grupo de alunos numa única atividade, no caso, a manipulação de bonecos que envolva mais de um manipulador. Tal situação suscita uma série de questões educacionais relacionadas à convivência e interação de grupo. Este processo ocorre com o indivíduo em todas as fases da vida, as questões relacionadas ao egocentrismo natural do ser humano aparecem de diferentes formas de acordo com a faixa etária. O trabalho corporal, a transferência de energia para o boneco e a relação entre os participantes estão na base deste processo que enriquece o conhecimento e o auto-conhecimento do indivíduo.
Este projeto foi elaborado e realizado no meu trabalho de conclusão do curso de Licenciatura em Artes Cênicas da ECA-USP, no ano de 2006. Realizei uma pesquisa prática no CEU-Butantã por um período de 3 meses e formei o grupo Atores Invisíveis a partir desta pesquisa educacional. Após um ano e dois meses de pesquisa, criamos a peça Espelho das Águas e a transformamos num espetáculo profissional. (Veja mais detalhes no blog do grupo: http://www.atoresinvisiveis.blogspot.com/).
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Projetos de Montagem
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Assuma - seR
(espetáculo adulto)
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"Não é mais necessário ser um grande ator, nem apresentar um espetáculo deslumbrante para impressionar o público. Basta aceitarmos nossa própria responsabilidade enquanto membros da sociedade humana". (Yoshi Oida)
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O espetáculo adulto Assuma-seR foi criado a partir da reunião de onze poesias minhas, cuja temática gira em torno do artista, do ator, do poeta. Reflexões, conflitos inadequações com o mundo externo e interno de cada um, revelam o caráter multifacetado, não só do artista, mas do ser humano.
A mecanicidade do trabalho e da vida cotidiana; a perda gradual da essência de cada um diante de uma sociedade acelerada e consumista; o incômodo de nos avaliarmos pelo olhar do outro - que nos julga pela aparência; a inconsciência sobre os rumos que tomamos na vida e que muitas vezes, nos endurece nos tornando "marionetes" de nossos próprios desejos equivocados... são algumas das questões que aparecem nas cenas de forma provocante, incisiva, às vezes sarcástica, mas sempre poética.
A proposta de encenação é provocar a reflexão e o questionamento individual. Sem receio de adentrar nas esferas mais filosóficas da existência – Para que vivo? O que quero alcançar ao longo da vida? O que está e o que não está ao meu alcance? – pretende-se deixar espaço para cada espectador formular suas próprias questões, de acordo com sua bagagem.
A ousadia ou presunção (?) é atingir ao público em seus questionamentos mais recônditos, já que a linguagem poética ou metafórica permite maior abrangência de interpretações. A base poética do texto é mote para a criação corporal e para a simbolização propícia ao teatro de animação – principal vertente de pesquisa do grupo. Evitamos os riscos de cair em interpretações declamatórias e monótonas, valorizando e significando a palavra ao explorar seus simbolismos metafóricos e suas sonoridades.
A linha de trabalho do grupo gira em torno da pesquisa e do cruzamento de linguagens. Nesta peça reúnem-se: teatro de animação (com bonecos de tamanho médio e pequeno – técnica de manipulação direta; manipulação de objetos e teatro de sombras), teatro de atores, poesia e dança. Tal mistura reflete o comportamento tanto da cultura brasileira quanto do teatro contemporâneo. Diante de uma atualidade na qual tanto se pesquisou e se criou em termos de arte e de teatro, o que resta para os artistas contemporâneos? A mistura? A releitura? A colagem? Criamos e recriamos utilizando, relendo e nos apropriando ora aqui, ora ali do imenso acervo artístico e cultural que passaram e passam pela nossa vida.

Máscaras Teatrais

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e mail: katyatro@ig.com.br
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Máscaras para

"Odisséia de Arlequim"

direção: Kleber Montanheiro


2009

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Máscara para a peça

"Bem Aventurados os Anjos que Dormem"

Direção: Kleber Montanheiro (Cia. da Revista)

feita a partir do rosto do ator Ariel Moshe

látex e pelúcia

(2008)

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Carnaval Veneziano máscara em papel

(2001)

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Tragédia

máscara em papel

(2001)

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Máscaras da Comédia Del'Arte: Dottore máscara em látex (2004)
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Arlequim meia máscara em látex

(2004)

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Zanni

meia máscara em látex

(2004)

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Pantalone

meia máscara em látex e pelúcia

(2004)



Pantalone

(com a atriz Valéria Balbin)

Batman


máscara em látex e capuz em tecido (2005)



Borboleta máscara em papel (2005)

Bonecos

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Boneca doublé para o espetáculo
A Lição
de Ionesco
Direção: Zé Parente
(2009)

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Lara
Espelho das Águas
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Cobra Norato
Boneca de 10 metros manipulada por cinco pessoas
Boneca Formiguinha para evento na KSL - Associados (2007)
Espuma com látex, articulada para manipulação a três

Boneca Formiguinha

Feita a partir da personagem da empresa KSL

(desenho criado e fornecido pela empresa)

Figurinos

Figurinos para
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Espelho das Águas

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figurino (Katya)
peruca (Daniela)
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Yara (Daniela Ranieri Luciano)

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Jurema (Daniela) e
Dalva (eu)

Atuação

Trabalhos como atriz:

Zé da Vaca (Grupo O Casulo) 2009
Visite o blog:
http://www.zedavaca.blogspot.com/
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Espelho das Águas (Atores Invisíveis) 2008

Dalva

manipulação a três:
Lara e Caio


Fotos do fundo do baú:

Jorge Dandin (1991)
- minha primeira concepção de figurinos -
Eu (Claudina) e
Airton Dupin (Lubino)

Cursos & Oficinas


“Se um grupo de pessoas se vê numa ilha deserta, a adaptação em relação ao outro torna-se indispensável à sobrevivência diária. Quando três pessoas movimentam um único boneco, ocorre o mesmo - a flexibilidade torna-se essencial para este trabalho.”
(Katya Ranieri Luciano)
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O TEATRO de bonecos
e a convivência em grupo
(confecção e atuação em teatro de animação)
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alunos da oficina de teatro no CEU Butantã - 2006
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Oficina que nasceu do projeto "O teatro de animação na formação do indivíduo"
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***Quando há três pessoas juntas numa mesma tarefa, suas atenções, foco, escuta, olhar, devem estar direcionadas para o mesmo fim, o de dar expressividade ao boneco.
***Ouvir e expor opiniões; observar e ceder; desenvolver a percepção para obter a sintonia que este trabalho pede; já possui uma gama de fatores que promovem o aprendizado.
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primeiros ensaios do grupo Atores Invisíveis - 2006
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Casting



Fotos
Alek Ribeiro (Produtora Eva)
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TV

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Em 2004, participei do programa
“Wake Up Rock’n Roll” (TV COM)
escrevendo e apresentando matérias especiais sobre rock.
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"Os Cabelos no Mundo do Rock"
Especial Aniversário "50 anos de Rock"
"A História do Vinil"
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(pôr vídeo)

Dramaturgia

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2008
Meu trabalho de dramaturgia atual está no projeto Assuma-seR (ver no início do blog) no qual utilizo textos poéticos para falar de questões humanas, talvez universais...
Este projeto é o que fala mais alto no momento. É a expressão mais sincera sobre a minha forma de enxergar a arte e a trajetória humana inserida na mesma...
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2006
Foi o ano da minha formatura em artes cênicas, no qual finalizei o texto
Espelho das Águas.
Esta peça foi o resultado de um trabalho de criação coletiva, no qual todos colaboraram trazendo através de improvisações e estudos, personagens, situações, cenas, cenários e músicas.
Meu trabalho como orientadora deste processo foi semelhante ao do alfaiate, que realiza uma "costura" minuciosa unindo todas as formas, texturas e cores, dando-lhes "modelagem e caimento" sem perder de vista a riqueza dos materiais originais trazidos pelos participantes.
Encontrei relações entre as metáforas descobertas pelo grupo e as "alinhavei" numa sequência de cenas e situações que as aproximassem das três lendas (Yara, Cobra Norato e Curupira), lendas que foram a base da nossa pesquisa.
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***
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14.11.07

Poesias



Algumas poesias minhas, umas recentes, outras bem antigas. Cada uma reflete uma fase, um momento, uma indignação, uma indagação, uma transformação...

Todas pertencem ao livro "Estados Transitórios" (Registrado na Biblioteca Nacional)

*

BRUXAS

*

As introspectivas são

Interiormente ativas

São, quase sempre,

Exteriormente ativas

*

As introspectivas são

Aparentemente tímidas

Nem sempre o são

*

As introspectivas

Causam a ilusão

De serem quietas

*

As introspectivas são

As piores

Segundo a opinião

Das que não o são

*

São assanhadas

Falsas

Taradas recatadas

Desvairadas

*

Traidoras

Bruxas de vassouras

Suas casas

São mal assombradas

*

Suas condutas corretas

Acarretam

Desaforo e desdém

De quem de fora

As vêem

*

As introspectivas são

Quase sempre

Caladas

Observam e lêem

As que as vêem

*

Falam muito

Quando alguém

Lhe quer bem

*

São muito auto-críticas

Pois olham-se mais

Do que as tais

Que as vêem

*

As introspectivas são

Quase sempre

Mas nem sempre

Quietas

*

As introspectivas são

Quase sempre

Poetas

*

05/06/08
*

*

*

“E agora José?”

“E agora você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros.
Você que faz versos,
que ama, protesta?
E agora José?”
(extraído do poema “José”, de Carlos Drummond Andrade)

E agora Mara, Lara, Mariana?
E agora Marcelo, Fábio, Iuri, Cauê?
E agora Pati, Paula, Cristina, Cláudia?

E agora você
que não viveu a ditadura?
Que é fruto de uma geração
que lutou na cara dura?
Que conhece a rima pobre
de uma candidatura.

Quem somos nós?
Artistas querendo
resgatar uma arte
que não é do nosso tempo?
Na época da ditadura,
política e arte
faziam casamento.

Acabou a ditadura,
veio a democracia.
Veio a democracia?
Acabou a ditadura?
Veio entre a arte
e a política
o divórcio.

E agora Bruno?
E agora Drica?
A arte perdeu seu rumo.
Seu objetivo de transformação
social e política.

A política perdeu
seu mais poderoso e abrangente
meio de comunicação.
A política não pode querer
atingir somente
pela militância.
A arte não pode querer
atingir somente
pela emoção.

Hoje desconectados,
políticos e artistas
estamos ambos perdendo
campo de atuação.
Não é possível
que depois de tanta luta
dos nossos pais
possamos nos conformar
com o aniquilamento.

Atores são corpos bonitos
e cabeças vazias.
Políticos são cabelos bonitos
e promessas vazias.
Não, não é possível!

Somos estudantes
e ainda temidos.
Somos uma semente
de transformação
social e cultural.
Somos ainda agredidos
e presos pelas autoridades,
não podemos ignorar isto!
Não basta deixarmos passar
nossa adolescência
e repetir que somos
inexpressivos.


Katya Ranieri - 05/2000
escrito após a greve da USP, na qual um aluno da faculdade de letras (meu amigo Jorge) foi agredido e preso por estar fotografando a ação da polícia durante uma manifestação dos alunos.







Homenagem às folhas
em branco

A vida foi feita para ser

* * * * * * * * cantada;

* * * * * *( *( contada;

* * * * * * * *trovada!

Não aprendo quase nada
Se a vida não for
versada;
* * * * * * * * * valsada;
* * * * * * * conversada.

Confesso não saber verso.
Mas, diante do papel
me arremesso,
Escrevo coisas sem nome
E sem endereço.

Escrevo para além das pautas,
Dos parágrafos e dos travessos.
Se há ponto final, vírgula ou pausa,
Não importa, escrevo até aos avessos.

Utilizo da folha a frente,
As costas e as diagonais.
Às vezes, de ponta cabeça
E ponho todos os sinais.

Quem conseguiria decifrar as interrogações?
Somente após muitos pontos,
Vírgulas e exclamações,
Poderíamos compreender.

Dos três pontos
Nunca se pode esquecer.
São essenciais ao final dos contos que,
Por serem de fadas,
Não podem desaparecer.


A vida não é um conto.
É desditoso viver.
Mas a vida foi feita
Para ser dita,
A palavra não pode morrer.

Se a vida é uma lida
Melhor então,
Se for escrita.

(Katya Ranieri Luciano 1995)

*

Geração pós 60

Somos seres livres encarcerados.
De pensamentos, idéias,
sentimentos e desejos emaranhados.
De corações,
veias e sangue endividados.

Fomos contra todas os males,
lutas e guerras vacinados;
Caminhamos pela rua,
não em busca de uma causa,
mas de algo que nos deixe
confortados.

Somos jovens – não adolescentes-
não tivemos geração,
nosso destino foi velado.
Fugimos da nossa verdade
sem sabermos quem ela é,
e no entanto,
ela caminha sempre
ao nosso lado.

Quero escrever uma poesia
que arregace
os corações enferrujados;
Que domine as multidões
de jovens amedrontados;
Que estenda pavilhões
com mensagens de namorados.

Que
nos dê palpitações
e jorre lágrimas pelos telhados;
Que faça renascer aos sopetões
esses sorrisos
acabrunhados;
Que alague os porões
e mate esses “ratos” afogados.

O jardim da nossa vida não morreu
por persistência irresponsável;
Nosso desejo de PAIXÃO
está em nosso âmago arraigado.
Estamos esperando o dia
em que a revolta apareça
do outro lado?

Será tarde demais
para apreciarmos
um dia ensolarado...

(poema inspirado e dedicado a Beth Coelho)
Katya Ranieri Luciano
26/01/94

*

*

De Dentro

Tua grandeza me oprime
Tua majestade me traz a proporção do meu pequeno corpo
Diante de ti quase me encolho
Tuas madeiras escuras me convidam ao recolhimento
Recebo paz ou angústia conforme meu pensamento
Faz-me refletir um momento,
Catedral de São Bento!

Os turistas te olham maravilhados
Querem absorver tua arquitetura
Querem compreender tuas figuras
Não importa se foram ou são, seres alados
A espiritualidade é sempre esquecida, deixada de lado!

Quando se fala em expressão da materialidade,
Analisar é bem mais fácil do que sentir,
Entre nós, a primeira opção é mais aceitável
Mantém o homem aparentemente mais estável

Ao passo que “o sentir”
Pode nos transtornar
Pois temos que admitir
Que temos muito a transformar

Amar a Deus é como entrar no mar
A rima pobre da nossa vida
Está em ficar somente a apreciar

*

“O sentir” nos exige sacrifício, doação
“O apreciar” se vale só da observação
Transformar é se auto-observar
Para tal, precisamos nos submeter
Nos negar, nos purificar
Nos dedicar à meditação
Que pode nos levar à redenção.

(26/06/07 – na Catedral de São Bento)



Falha de Comunicação

Teu silêncio me incomoda
Não quero te dar corda
Mas não te acomoda
Se você não concorda
Não dá para entrar em acôrdo
Acho que deixamos
Arrebentar a corda

O que foi mesmo que deixamos?
Foi desleixo ou desacordo?
Não me recordo...

Em que ponto paramos?
Acho que nem começamos
Com medo de desabarmos
- foi esse o acôrdo.

Acôrdo que ficou no ar
Não sei ainda se você concorda
Fiquei sem saber, de orelhas para o ar
Fiquei a pensar
Se você concordou,
Se percebeu meu pesar
Ou se ele mesmo te pesou

Talvez não seja nada disso
Talvez você não tenha nada a declarar
Por isso então, teu sumiço.

Antes do enguiço resolvi eu mesma,
Interromper a engrenagem
Recolher a bagagem e adiar a viagem
Haverá ainda outra oportunidade
Para reativar
esta engrenagem...


(julho de 2007)

*

ESCREVER

Não sei se quando escrevo, me aproprio das idéias
Ou se as idéias, que se apropriam de mim.

Palavras se manifestam às marteladas em minha cabeça
Por que esta necessidade de escrever?

Será minha angústia com o mundo?
Ou será que o mundo se angustia com meu silêncio?

As idéias têm forma, ritmo, rima, cadência, cor.
Se não as coloco no papel, somem como vapor...

Ponto de ônibus.
Cadê a caneta?
E o papel que me falta?
Se as idéias pertencem a mim,
Por que preciso registrá-las logo?

Se elas podem fugir, então,
É porque não me pertencem
Ou eu que pertenço a elas
No momento em que me martelam a cabeça

A fome bate no estômago.
Pego a maçã ou a caneta na bolsa?
Decido pela caneta.

Comer, comer...
Porque esta necessidade a toda hora?
Posso comer, encher a barriga, tudo bem.
Mas não posso pensar que tenho que comer
Se penso nisto, perco a fome de pensar
Fico sem palavras no prato que me alimenta

Alimento que me sustenta
Palavra que me suporta
Idéia que me suspende
Sonoridade que surpreende
Expressividade que prende
Prenhe na minha cabeça caótica
A pressa com a qual me expresso
Urgência em reter a forma poética
Presa na fixa forma maleável
Liberta meu ser imponderável
Tira os pés do chão e toca o céu impalpável

No mundo sem rumo
Cada qual com seu papel
Eu com a caneta na mão e ideal reciclável
Cada dia sou um, uma
Tantas que já fui sem ser
Até o limite do incalculável

Pra que serve o raciocínio?
Idéias, palavras, gestos, imagens...
Tudo tão fugaz e indispensável
Que consome papel
E alimenta o que penso ser
Meu SER mais indelével.

21/04/07



Quilombo

*
Quilombo no nevoeiro
Qual será meu paradeiro?

Idéias se consomem noite adentro
Sem clareza no pensamento

Negritude presente
No meu Passado
Que se esconde
Numa luz obinubilante

Que seria de mim
Sem este passado no semblante
Minha alma que alumia o futuro
De um passado de brilho inerme

Caminho na noite escura
Escondendo da luz pura,
A névoa que me procura

Se te mantenho por comodismo
Decido afastar-me de sua incúria

Calculo o que será de mim
No futuro de sol púrpuro
Desisto da verve impura
Que me procura

Fazendo noite em meu ser
Só para não ter que ver

Na escuridão que esconde
O que daria para ver

Não fosse o nevoeiro que se fez
Em meu quilombo.

21/04/07

*

Consciência

Como encontrar o motivo certo
De tudo que dá errado?
Se não se vê o erro no que é errado
Mantendo o erro de projetar no outro
O que me pertence, por certo.

Os valores que adquirimos
São, no mínimo distorcidos

Estendo para o mundo
A culpa que há em mim

Reconheço no mundo o erro
Para não descobri-lo em mim

Afasto-me do acerto
Pensando que sou o certo.

Para não levar desaforos pra casa
Solto minha língua imprudente

Carrego no coração mágoa, dor,
Arrependimento.

Pensando no pensamento
De não levar tais desaforos

Carrego coisas piores
Acabo por cair doente

O mundo não me compreende?
Como ele poderia?

Já que o coração diz uma coisa,
Que a palavra desmente?

21/04/07



Ponto final

Temos tanto respeito, alegria
E cuidado com o ponto de partida
Qual será este princípio?

A fragilidade, a dependência, a inocência
Provocam mobilidade, dedicação, paciência.

A promessa do amanhã nos move a todo sacrifício
No entanto, não se confere o mesmo com o ponto final.

A fragilidade, a dependência, a inocência,
São as mesmas como recorrência
Mas não provocam
Nem mobilidade,
Nem dedicação,
Nem paciência...

Se perdem promessas
Para o amanhã,
Nada mais
nos move
ao sacri-
fício.

Por que não mais apostamos
Naquele futuro tão esperado?

Mantemo-nos no presente parados,
Ou louvando somente o passado.

Não cremos no que pode haver do outro lado
- Após o ponto final.
Será então,
O terminal?

(30/04/07)
*

*

Oásis

Em meio à massa de gases
Poeira, sujeira, palavras traiçoeiras,
Encontro-me presa como numa ratoeira.

Na secura do concreto,
Neste imenso solo, não há teto
Pobreza, angústia, desafeto.

Cada dia, desamparo
Tranqüilidade, equilíbrio? Raro...
Viver custa caro.

Na clareza do dia
O sol é muito seco
... E a chuva, muito fria.

Na maré do fim da tarde
Mar de gente, a rua invade,
Prende a mente, que de nada sabe.

Calúnia, futilidade,
Soltam a língua à vontade,
Derramam lixo, luxúria no fim da tarde.

Em meio ao mar de gente
Sinto sede, sou indigente
Preencho-me fechando-me
Na minha própria mente.

Na secura do dia a dia
Procuro água, líquido, néctar,
Derramando-me na lua fria.

Encontro oásis que me sacia
No intervalo do dia.
Dura pouco, o sol que brilha,
Embalando-me em seus braços como sua filha.

02/05/08

*

*

Penso, Logo Existo?

Pensamentos sobrevoam nossas cabeças.
Pensamos que são nossos, os pensamentos
Mas não,
Voam e não voltam mais...
Procuram outras cabeças que os acolham.

Pensamentos voam
E pensamos que povoam nossas cabeças
Mas não,
Eles voam para outras cabeças.

Nossas cabeças voam
E perdem os pensamentos que voam;
Nossas cabeças voam através dos pensamentos
E os pensamentos voam de nossas cabeças.

Cabeças foram feitas para pensar.
Pensamentos foram feitos para voar;
Cabeças não foram feitas para voar;
Pensamentos não foram feitos para ficar;
Pensamentos voam e nos deixam sem o que pensar.

Pensamos que pensamos
Mas não,
Voamos através dos pensamentos.

Voamos atrás dos pensamentos,
Que voaram para longe
E nos deixaram insanos...

Pensamos que somos insanos
Quando com o pensamento voamos
Mas não,
Somos insanos, quando sem o pensamento voamos.

Com Ele somos leves, podemos voar,
Sem Ele somos febre, pensamos voar.

18/08/2000

*

Rap Infeliz

Você aí que tá sentado
Me olhando com essa cara
Aí parado

Vou te contar minha história
Vê se não dorme no sofá
Fique acordado

Mas preste bem a atenção
Que o papo é sério
Não vou falar de assassinato
Nem de ladrão

Eu sou um cara que vive
Na contramão
Meu papo é cheio de sentido
Não me intimido


Não curto festa de modinha
Sou deprimido
Meu papo é meio diferente
Eu sou carente
Só curto mina inteligente

O meu caminho é colorido
Minha função é provocar
O seus sentidos

Minhas armas são minhas palavras
... e mais nada

Não tenho faca, nem revólver,
Nem tênis de marca
Marco presença com a inocência

Sou livre e forte
Estou em busca de encontrar
O meu norte

O meu destino é como o seu
Somos iguais
Diante da morte

A diferença está na crença
Não se esqueça
Traçar um caminho
É algo que se faz sozinho

Ma preste bem a atenção
Não siga o que te fala
A televisão

Observe bem a multidão
Ninguém te dá nada
Na palma da mão

Olhe no fundo do olho
Daquele mendigo
Escute bem o que eu te digo
Não siga o que te traz
Só ilusão

Antes de me enganar
Com alguma imagem
Prefiro aumentar minha bagagem

Antes de me apoiar
No que me dizem
Ser moda ou não
Prefiro continuar
Na contramão

14/05/08

*

*

YIN YANG

Se hoje sonho
Amanhã não durmo

Se hoje durmo
Amanhã não paro

Se hoje penso
Amanhã só faço

Se hoje ajo
Amanhã cansaço

Se hoje quero
Amanhã desconsidero

Se hoje procuro
Amanhã não estou

Se hoje avanço
Amanhã não alcanço

Se hoje atleta
Amanhã poeta

Se hoje vaidosa
Amanhã horrorosa

Se hoje palpito
Amanhã omito

Se hoje concilio
Amanhã desvario

Se hoje compreendo
Amanhã me vingo

Se hoje feliz
Amanhã por um triz

Se hoje lamento
Amanhã não agüento

Se hoje escrevo
Amanhã nem leio

Vivo procurando
O caminho do meio
Mas continuo nos extremos
Yin Yang

12/06/08

*

*

SEM RIMA

Quero escrever sem rima
Este ritmo me azucrina!
Esta cadência perdura
Não me deixa
Que insistência!

A palavra vem aprisionada
De uma forma encadeada
Parece loucura
Quero a idéia
Mas a musicalidade
Me procura
Perdura

Quero sair desta forma
Me libertar
Ampliar
Deformar

Quando penso em elaborar
A idéia divaga
Eu fico a observar

Me foge o senso
Parece que não penso
Fico com a forma
Que, às vezes,
Parece morna

Meu sonho é o romance
Este é repleto de sentido
De nuance
Leva ao infinito...

Sua musicalidade
É permanente
Alongada
Fluente

Não é, como no poema,
Pontuada
Não é só uma citação
Contundente
Como no poema

Quero sair um pouco
Deste esquema
Que sina!
Quero escrever sem rima.

Há tantos poetas loucos
Malditos, suicidas
Às vezes,
Isto me desanima

Não quero este destino
Sou poeta
Mas minha mente, domino

Gosto da anormalidade
Mas na arte
Não na realidade.

A musicalidade do poema me incita
Não consigo me livrar desta escrita.

Quero criar metáforas
Mas preciso ficar, só um pouco,
Fora desta via
Quero escrever sem rima.

04/06/08